quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O beijo na escada

Uma nega
chamada
Santa Tereza

Amanheceu uma segunda feira
em Santa Tereza.

Horários corridos
Filhos
Estribilhos

Corre pega a bolsa
Agenda, celular, chave.
Brinco!
Lembra do bombeiro
deixa a chave de volta com o vizinho
Fechou o gás desligou tudo
Olha o dinheiro da empregada.
Olha essa sacola  nao vale, tá furada
Anda a hora que a hora passa

Hora passa hora passa hora passa

Corre corre correria da manhã
corre, salto alto para descer a escada? Segura

Segura que essa escada  liga, em flor, o ninho ao asfalto;
o paraíso ao trilho;
escada íngreme, firme,
escada de cimento
rolante e fixa
estática e infinita

Sigo então sem muita poesia
escada abaixo e tarefas acima,
que a hora passa a hora passa a hora passa
passa a hora passa manhã lá foi-se o dia

ôpa ôpa ôpa
pára tudo.
Eis que nessa escada tem ele.
Ele, que pára a hora
pára o triho
muda o caminho.
Pára a infinitude útil ou inútil da poesia

Sim, ele parou também a escada
estancou essa doida e necessária correria.
Segurou minha cintura com o poder manso dos mais honestos
Segurou minha pressa com o controle tranquilo dos íntegros

Segurou em suas mãos, como sempre fossem seus, o calendário e o meu destino.

Olho no olho
Boca na boca
Beijo com beijo
Língua quente.
Gosto bom de dente de saliva
Gosto cheiro sabor de alma nova
de alma viva

Já não é mais segunda, terça ou sexta.
Eu até então tinha quarenta e dois
e ele, um pouco mais.
Mentira.
Desci a escada com quinze anos.
este foi meu primeiro beijo,
eu era virgem,
e ele era o prìncipe herdeiro.







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