terça-feira, 3 de julho de 2012

Picuinhas do Desamor

Vazios
Desertos
Perdidos
Onde?
No Rio





Vejam bem se isso é lugar de teimosias

É, nem só de pinguins ( já são 39 animaizinhos que aqui aportaram esses dias! ) vive a orla do Rio.
Uns e outros acharam por bem resolver suas picuinhas no território sagrado do Arpoador, vejam bem, caríssimos, se isto é coisa que se faça.
O Arpoador é um santuário da natureza. Consagrado como Patrimônio Universal, o que afasta qualquer suspeita de minha parte em elogiar sua espetacular beleza. Manhãzinha bem cedo, dá pena até de falar. É tanto azul, tanto céu, tanta pureza, não cabe outro som que não seja o das ondas, o dos pássaros, que não seja o som do vento na Pedra.
Enfim.
Silêncio e adoração. Se Deus está em algum ponto geográfico do mapa mostrando ao Bicho Homem seu amor, creiam, é ali. 

Mas nem todos se contaminam com essa paz. Não mesmo. Há uma criatura que elegeu este paraíso para prosseguir com suas picuinhas. 

Eu conto como foi. O rapaz tinha por namorada moça bonita. Moça bonita tem gênio, dizia meu avô, e tem que ter, explicava ele, senão é só enfeite. E mais, mulher bonita é adorno de luxo, (explicação 2 do mesmo autor), e o rapaz tem que saber carregar, não pode levar de qualquer jeito não. Ou o bibelô cai e quebra, ou outro carrega.

Faltava. Ah, faltava jeito. O rapaz não sabia carregar. Ela queria praia, ele não podia. Ela adorava praia, aí neste cantinho do Arpex. Não, ele não ia. Não podia. Tinha sono, tinha bar, tinha futebol, tinha mãe, tinha tio, tinha prova, tinha trabalho, tinha tudo, tinha que contrariar. Picuinhar.

Muito que bem, a moça bonita, claro, encontrou  quem melhor a leve. Quem a conduza com o devido cuidado e carinho que os adornos delicados merecem, a vários lugares, inclusive à praia.

E diariamente, quem está lá sozinho, emburrado e carrancudo? Ele. Solitário. Teimoso. Tardio. É o único ser vivo mal humorado na areia do paraíso.

Agora, Inês morta, ele vai.  No mesmo horário, no mesmo dia, no mesmo metro quadrado onde pisava a moça bonita.  Ele tem ir, tem que olhar, tem que ocupar aquele espaço. Tem que se aborrecer, tem que aparecer, tem que se contrariar.  Tem que se machucar.

A picuinha agora é só dele.  A moça bonita está ótima, e feliz, o Arpoador continua lindo, cada vez mais lindo, e o caríssimo continua teimoso. Era teimoso no Amor, e agora, no Desamor. A cada um, como seu destino ou  seu desatino, também dizia o meu avô.

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