segunda-feira, 30 de julho de 2012

Mais que mais um Ano

Rio de Janeiro
Bercário do Mundo inteiro





Viva a idade nova de Pablito

Senti o cinto apertar na cintura. Estranhei, procurei meu reflexo na vitrine.
Não, eu não estava inchada, pelo menos não se notava.   Sentia a barriga estufada. De quê? Eu vinha sem apetite nenhum nos últimos dias.
Aliás, na verdade, eu andava era enjoada, sei lá. Não queria comida.
Nem bebida. Até o ar que eu respirava me causava náuseas.
Cheiro de cafè? Assim, fresquinho? Nem pensar.
Sabonete, pasta de dente. Horríveis sabores.
Água. Não, tem gosto de ferro.
Nada.
Só alho, bem torrado no azeite, com pão velho. É, velho, duro, de dois dias passados.

Fiz o exame.
Deu lá: grávida. Totalmente grávida. Indubitavelmente grávida.
Susto. Choque. Incompreensão. Pânico. Como, meu Deus? Eu me cuido.

Mentira. Eu havia falhado no tal cuidado. Distraí-me, mas o plano espiritual não se distraiu comigo. O pessoal lá de cima estava de olho em mim, e aguardava meu vacilo. Era chegada a hora de emprestar meu corpo para um anjo vir à Terra.

Era minha vez. E por mais que se diga - e eu sou dessas que gostam de dizer - que a mulher nasceu para ser mãe, que tem instinto maternal, que é a maternidade é natural, e blá , blá, blá, não é bem assim. Não é mesmo. Bem, fechando o foco: não foi bem assim para mim.  Não foi um anúncio de Confort com a mamãe e o bebê deitados em um edredon florido, quarto amplo e arejado, sossegados e felizes tirando um soninho gostoso.
Longe disso.
As mummys suspirantes que me desculpem - ser mãe de recém nascido é de perder o fôlego. Sem dormir, sem tempo, amamentando de duas em duas horas, bebê com cólica, vômitos, febre, dente, vacina, pediatra; correrias. Papai? bem mais fácil. Pai não amamenta. Liberdade de ir e vir preservada e garantida. Eu quase pirei.  Bem, dei conta do recado, e o baby cresceu, lindão.

Meu primeiro filho veio ao mundo há quatorze anos. Completa-os neste 31 de Julho. Em rápidas contas, 14 anos de 365 dias cada um, temos 5 mil e duzentos dias de convívio, íntimo e intenso. (fora os 280 dias da gestação) Relação de dependência, de amor, de proximidade, que estranhei ao início, confesso, criatura egoísta e individualista que eu era.  Os dias difíceis, do trabalho exaustivo, das noites sem sono e dos dias agitados foram sendo substituídos por dias mais controlados e mais alegres, aos poucos, aos pouquinhos...Passeios, diversões, saúde, e uma comunicação sem sílabas foi surgindo.  A rotina foi ficando leve e repleta de compensações. Pareceu fácil esta transição, assim posta em duas frases? Mas não foi. Eu era uma pessoa. E continuando a ser uma única, tinha que cuidar de duas pessoas, sendo que a segunda pessoa era mais importante que eu, indefeso, incapaz, frágil. E chorava o tempo todo.

O pequenino encontra-se maior que eu.  Em estatura, sim, e em maturidade, provavelmente.  Não conheceu a redoma que eu conheci; acostumou-se com mudanças de endereço, de colégio, de amigos, de pai, de padrasto. Foi colecionando irmãos por todos os lados. Alma de cigano, magoá-lo é difícil. Sua história o talhou forte, em madeira de qualidade. As circunstâncias que poderiam ter-lhe sido adversas conspiraram a seu favor. O moço resiste aos ventos com classe e categoria,  e à essa mãe meio despreparada que o destino reservou-lhe.

A cada ano, melhor. Bonito, honesto, inteligente. Leal. Com ele se conta.

A cada idade nova, mais um ano dessa força, de mais força, de renovada e arraigada força.

Maior parceria , maior entendimento, maior companheirismo. Este seu aniversário não comemora só mais um ano de vida - comemora para ele, e para mim, mais um ano de vitórias. Vamos driblando nossas incertezas, as diferenças, os medos, as euforias. Esticando alguns limites e encurtando outros, vamos nos equilibrando entre espaços distintos e universos quase incompreensíveis. Quase. Não há incompreensão no Amor, são substantivos incompatíveis. Não aparecem lado a lado na semântica, nunca. Digo e repito: o Amor é sempre a saída, o motivo, e a explicação.

Campeão de 2012, ele.  Aprendiz, eu.  Ambos premiados neste desafio de vencermos - principalmente - a nós mesmos.



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