quinta-feira, 28 de junho de 2012

Chave de Cadeia

Gávea
Quase Leblon
Quase São Conrado
Sempre Arte





           Ana Baird, e sua diva.   Este doce de mulher enlouquecerá de paixão sob nossos olhos



" Mulher Chave de Cadeia, s.f.: deliciosamente charmosa, ciente de do poder que tem nas mãos. Imatura, instável, insegura, ciumenta, com graves tendências a encrencas e confusões"  (papodehomem.com)


Vamos lá, caríssimos. Tem gente que diz que é comediante, e não é. Que é atriz, e não é. Que é cantora, e não é. Ana Baird não diz, mas poderia, porque é tudo isso, e de mão cheia. E principalmente, ela tem a marca inconfundível das grandes atrizes - não teme  o ridículo. Ao contrário. Topa o desafio de ser ridícula, e se sai bem, muito bem nessa jogada.
Ela entra em cena e sem proferir palavra a platéia já começa a rir. Sua imagem é engraçada. Muda, é engraçada. É dramática, é figura, é posuda, é exagerada. Overseized, o que a torna ainda mais impactante. E quando canta, ela assusta. É a voz de uma diva. Com um vestido vermelho lindíssimo, assinado pela figurinista Alessandra Sombreira, La Baird encarna uma crooner, uma cantora, uma chansoniére, lo que quieras, e nos contará sua mais recente história de amor entre  lágrimas, drinks e  .... músicas.  Somente canções. Não há palavra em seu texto que não seja palavra cantada.
O bom gosto do repertório escolhido e a alta qualidade dos músicos garantem a graça do espetáculo, e a ordem em que as músicas vão sendo apresentadas tem a lógica dos casos de amor, se narrados fora de ordem! Sim.  (e lá o amor tem ordem?) Ela já entra no palco sofrida, embriagada, mal humorada, a coisa acabou de descer pelo ralo, percebe-se pelo seu mau humor. Insuportável. Fuzila a banda, e que banda. Enchem o teatro com notas lindas, melódicas, grandiosas, enquanto a fera ferida afunda cada vez mais, em mais desespero e mais bebida.
A pessoa enlouquece, arranca os cabelos, a maquiagem, se joga no chão. Parece levantar-se, e eis que o sujeito indeterminado volta para o seio da amada. Não ouve conselhos, avisos, amigas. Aceita o traste de volta. Sabemos como isso terminará.  Em mais bebida, mais doideira, e mais estress. Até o triunfo final: a libertação. 
Viram como é possível? Taí.  O talento da atriz e a potência de suas interpretações me convenceram que foi assim. Pode ser, ou não, Talvez ela tenha exagerado na dose, e visto o romance com lente de aumento. Visto também seu desespero com lente de aumento.  E é um desespero crescente, em subida íngreme.  No decorrer da peça, tudo em Ana Baird  vai ficando fora de ordem - cabelo, maquiagem, vestido, colar, microfone. O palco, a bolsa e a alma estão tresloucadas. . A sanidade de sua crooner comprometidíssima a cada capítulo cantado desta saga de amor e sofrimento.
Melhor para nós, espectadores ansiosos por gargalhadas.  Temos uma caricatura de excelente traço diante de nossos olhos, viva, cantando, e agradando em cheio os nossos ouvidos.  Ela vai de Maysa a Jorge Aragão, passando por Chico Buarque e Betânia. As internacionais são maravilhosas - Cry me a River, The Lady is a Tramp, e, claro I´ll Survive, de Glória Gaynor.  Incorpora pombas giras, ciganas, Maria Callas, Greta Garbo, Judy Garland,  Dolores Duran. Todas ali, dentro daquele vestido vermelho, soltando alto a voz, e se rasgando de paixão.
Acho, sinceramente, que nunca mais vou sofrer por amor. Cada vez que eu me lembrar desta Chave de Cadeia, eu vou é chorar de rir.


                   Ana Baird, e o desespero que precede o caos - a mulher é uma avalanche

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