domingo, 20 de maio de 2012

Antes que você me toque

Copacabana City
Zero a Zero?
Um a Um?
Nada disso - é  2 A 2


Antes que você me toque
Antes Durante Depois

Caríssimos,  eu vi,  ao vivo, a cores e de perto,  aquilo que queríamos ver e tínhamos vergonha de olhar.
Aquilo que queríamos saber e não tínhamos a quem perguntar.
Aquilo outro.
Aquilo de novo, agora de outro jeito.
O mesmo? Não, diferente agora.

Sim, aquilo que andam sussurrando em versos e prosas e suspirando pelas alcovas, diria Chico Buarque. Em outras palavras, sexo.

O sexo move o mundo desde Adão e Eva. Libertador, reprimido, experimentado e reinventado,  o ser humano precisa e gosta de sexo. Ai, ai , ai. Quanto já fez e já se deixou de fazer a mando do desejo carnal, Aventuras, romances, traições, fidelidades.  Há paixão sem sexo? Duvido. O sexo preserva a humanidade da extinção.  Em todas as civilizações, da Idade da Pedra à atualidade, humanos e macacos, todos fizeram sexo. Faz bem ao corpo e ao coração, relaxa. Vicia. Estigmatiza. Alivia. A prostituição (oferta de sexo) é a profissão mais antiga do mundo.  Os senhores feudais desvirginavam as noivas de seus vassalos como símbolo de poder e  dominação das classes sociais menos favorecidas.  É objeto de manipulação emocional. Depois de uma noite fazendo amor, somos mais apaixonados, confessemos.. Fazer amor enleva os apaixonados. Sem amor, apenas satisfaz. Ou não, agride. É faca de dois gumes. É faca, açoite, e é bálsamo.

Deixemos Claudia Miele, idealizadora do espetáculo, discorrer sobre o assunto. Divide com o público atento e apreensivo modernas possibilidades das relações sexuais e afetivas. Da sedução do parceiro ao exercício de novidades técnicas, digamos assim.  Apure olhos e ouvidos. Os quatro atores em cena satisfazem, por assim dizer, a curiosidade da corajosa platéia com sua atuação em cima de um fantástico. Ousado e simples. Realista. Honesto. Seus personagens foram batizados com seus nomes próprios.São personagens ou são eles mesmos? 
Preparem-se. Os atores de despirão inúmeras vezes, de acordo como o esquete apresentado. Veremos peitos, barrigas, bundas, genitálias, mas mais que tudo, veremos o desejo, em formas variadas, com amor e sem amor. Seduzem uns aos outros e a nós mesmos. Permitem-se. Tiram a roupa como eu tiro meus óculos escuros, revelando-se com naturalidade, sem ostentação ou malícia. É quase um swing de família.

Além do bom gosto da conduta, que afasta o erotismo da promiscuidade, outro golpe de mestre foi a escolha da montagem em um cenário real. O ambiente está impregnado de sexo, como um quarto de motel, portanto tudo que se sentir por ali,  está justificado pelo seu contexto. Horas atrás haviam casais nus por ali, praticando livremente o swing, o sexo grupal. Homem com homem, mulher com mulher, agora troca, mas não necessariamente nessa ordem. O prazer que desfrutaram está pelo ar. Mais: sabemos que estamos ali com tempo contado. Às 22:30 voltarão. A escada que leva às cabines do segundo andar ostenta um aviso em inglês. Traduzindo: "a partir daqui, roupa é opcional." Os atores nos chamam para subir com eles. Não digo mais nada.  Na entrada escura um guarda costas imenso pediu os documentos de identidade, portanto, quem é maior de idade que se defenda.

Assisti um espetáculo do estilo erótico-dramaturgo, explico: tem enredo, tem histórias, faz sentido, é inteligente, esclarecedor, instigante e bem humorado. Didático, inclusive.  E visto que exemplifica o decantado tema com atores nus a palmos de distância dos espectadores, é erótico. Ao alcance de minha mão, o ator, nu em pêlo, e a atriz, nua como veio o mundo. Falando em mundo, tudo começou do sexo. Dali veio a humanidade, do ato sexual.  Isto é indubitavelmente erótico. Bem erótico.

Convido-os a serem provocados pelo seus mais íntimos questionamentos. "Antes que você me toque" estará em cartaz até 30 de junho. 
Quem tiver coragem, aceite, e vá.  Deixe-se tocar. Antes, durante e depois.


Elenco: da esquerda para direita: Saulo Rodrigues, Cristina Lago e Igor Angelkorte.
               Abaixo de Saulo Rodrigues, Claudia Miele.
Direção: Ivan Sugahara
Realização: Claudia Mele, Ivan Sugahara, Saulo Rodrigues e Tárik Puggina




Um comentário:

  1. E ainda digo mais: é um espetáculo que prende a atenção não por escandalizar, exagerar ou afrontar o espectador com o tema, mas por conter estórias da vida comum, com sagacidade, muito, muito humor e, atrevo a dizer, um toque de classe. Nada de pornografia ou coisas bizarras. Sexo com sexualidade. Sexo que provoca desejos. Atração. O espetáculo atrai e conquista.

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