sábado, 7 de abril de 2012

Relevâncias da Páscoa

Ipanema
Irreverente
Independente

Relevante

A máquina

Tenho muita sorte nesta vida, caríssimos. Tenho amigos inteligentíssimos, espalhados pelas Artes - canto, dança, cinema, fotografia. Venho observando, pois observar é meu serviço preferido no momento, a arte da fotografia. E estou encantada, principalmente, com os clicks da amiga Ana Schnneider.

A imagem é a palavra fotografada. Muitas palavras, ou poucas, eruditas ou vulgares, ácidas ou doces. A fusão da foto com seu significado varia de pessoa para pessoa, porque cada um atribui valor à imagem conforme o valor que atribui ao objeto fotografado. Esta é a armadilha da fotografia, habilmente explorada pela mente irriquieta da homenageada do dia.

Suas fotos são palavras com flash. Sim. Ilumina e imprime nova relevância à palavra comum, e ao objeto fotografado.

Por exemplo: peixe. Substantivo concreto. Peixe é um animal marinho, limpinho, quase sem sangue. Olho de peixe morto - olho sem expressão. O cardume não ataca ninguém, é um povo pacífico, mas se o peixe ataca é por que é tubarão ou barracuda. Muito que bem, peixe tem de monte por aí, e peixe é só peixe. Mas veja a foto abaixo:


Foto: Ana Schnneider, da série Preto no Branco. Gentilmente cedida

Estamos falando dos mesmos peixes, dos mesmos substantivos? Claro que não. Sob o olhar artístico, os peixes tem mais carne, mais escamas, e mesmo mortos, tem mais vida. São voluptuosos, vejam que rabões! Podem alimentar dezenas de terráqueos, estão aí neste balcão para essa missão. São fonte de renda para o pescador e o feirante, e são lindos seres prateados.

A artista do click tem outras pérolas, muitas, e para todos os objetos e seres alvos de seu flash, consegue o tal efeito. É a lente da relevância, na verdade, esta é a relevância da Arte. Revelar o valor oculto em fatos que aparentam pouco ou nenhum valor, e para o qual não teríamos a consideração de um segundo olhar; acrescentar significados ao significado comum de uma palavra. Poderá incomodar, talvez, mas sempre, sempre, deve causar reação. Senão não tem função social, o que seria um pecado imperdoável. Nossos atos precisam contribuir para a melhoria da sociedade, filha pródiga dos nossos tempos.

Este post não é unicamente para elogiá-la. É também para afinarmos nossos olhos nesta Páscoa.

Para que os mantenhamos em foco no que há de mais relevante no mundo, e assim, reverenciar qualidades ainda não percebidas neste mundo louco que nos abriga. Como estamos nos festejos pascoalinos, sugiro um zoom, um belo zoom, na palavra LIBERTAÇÃO, difícil de ser fotografada, difícil de ser registrada; palavra fundamental para que vivenciemos a verdadeira Páscoa judaico-cristã.

É hora de lembrar dos judeus vitoriosos que mudaram o rumo da humanidade e conseguiram dar uma banana para os seus exploradores. Hora de lembrar de Cristo, que veio pobre, sobre um jegue, trazendo um discurso revolucionário e uma nova possibilidade de vida; porque a liberdade não está no dinheiro e no poder, e muitas vezes, bem longe de ambos. Que olhemos bem, tudo que nos cerca, e nos libertemos das imposições e padrões socias; das imposições midiáticas e das regras consumistas, e respiremos, profundamente, o ar de uma nova era, fértil, produtiva, e autônoma. Que consigamos olhar para nossas virtudes e não para nossas compulsões, fotografando nossos bons predicados sob a lente da ampliação.

Coloquemos o tal zoom em ação. Tem mágicos poderes - com sua ação de aproximar o que é importante, acaba por sequência minimizando todo o resto, que se torna fosco e longínquo.

Nesta Páscoa, eu desejo a todos vocês, caríssimos, que o ovo de chocolate venha com o brinde invisível da lente da relevância, sem a qual os peixes são tão somente bichos marítimos, limpinhos e quase sem sangue. Mas se colocarmos a tal lente para trabalhar, aí sim, veremos os peixes brilhantes da foto de Ana Schnneider.

Nota: Peixe no Antigo Testamento, é um dos nomes de Jesus Cristo

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