quarta-feira, 21 de março de 2012

Lenine

Rio
Leblon
Chão
E diz aí peão peão peão

"Chão
Cabe na minha mão
É o pequeno latifúndio
Do seu coração." (Lenine)



Nossa, muito fã de Lenine. Quando soube do show, pulei. Eu vou, quero ir, adoro. Já que sou do pandeiro, vou. Já que sou brasileira, e o país do suingue é o país da contradição, eu vou, né. Lampião, lampião.

Lenine é um dos maiores letristas desta Terra Adorada. Irreverente, romântico, sofrido, compõe com a elegância e a ironia dos anos vividos e pelejados. Ora rebelde, ora apaixonado, ora entregue, ora reagindo; Lenine domina a palavra como os repentistas: desdobra os significados dos nomes, das coisas, dos sentimentos. Discorre sobre um tema (qualquer tema, amor, cidade, pobreza, solidão) com leveza e profundidade - coisa rara - do começo ao fim. Sua voz é linda, alta, ampla, sotaque nordestino, violão certeiro; emprega violinos e percussões em arranjos sempre originais. Musicaço.

Ao vivo é mais magro, menor, e mais jovem que em fotos e vídeos. Um tipo pacífico, manso, que parece feliz e tranquilo, Lenine passa um bem estar geral para o público. Cabelos compridos, que balançam quanto toca e canta. Um pouco de Pepeu Gomes e de Lennon. Curioso, ao ajeitar os cabelos ele parece-me infantil, sim, como a criança de cabelos longos que não sabemos se é menino ou menina.

E com todos esses atributos, visíveis e sensíveis, Chão não foi o que eu esperava. Desculpem, meu compromisso é com a sinceridade, senão não vale.
Chão é lento demais. É introspectivo demais. Tem som de pássaro, salpicado, vindo de longe. Eu bem queria um Lenine mais urbano, mais prático, mais pé no chão, me perdoem o trocadilho. Lenine que falava do que a gente tem aqui no peito e na cabeça, hoje, agora, ontem no máximo. Fui para encontrar o Lenine que fazia aumentar o som. Não encontrei.

Encontrei um grande músico fazendo uma grande apresentação, em cenário chiquérrimo de Paulo Pederneiras e Fernando Maculan; tudo escuro, três luminárias, e o palco do OI Casa Grande forrado com estopa tingida de vinho. Conseguiram uma clima sóbrio e moderno, o chão entre tapete e nuvem, o teto um céu negro. Show impecável em luz, som e inovações conceituais. Sonoplastia e música para intelectuais que identificarão referências. Acompanhado por Bruno Giorgio e JR Tolstoi, ácidos e eletrônicos demais para meus ouvidos dengosos, Lenine abusou mais dos efeitos que das palavras, matéria prima que domina e que deveria ter usado em abundância.

Deve ser porque sou brasileira, do pandeiro e do violão, e o som certeiro do swing é o som da contradição. Isso mesmo, Lenine, eu te preferia Lampião.

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