segunda-feira, 12 de março de 2012

Heleno

Pré Estréia

Glória
Fama
Loucura

É gol de placa


Se você gosta de Rodrigo Santoro, prepare seu coração.
E se não gosta, prepare-se também. Vai se apaixonar. Ele está impecável como Heleno de Freitas, jogador de futebol, un bon vivant que ganhou fortunas e sífilis durante seus tempos de glória.

O filme ainda nem estreiou, e caríssimos, eu bem já vi, criatura curiosa que sou. Enquanto não entra no circuito, vou adiantando o assunto, e o assunto é Santoro, e sua superação.

Ah, vou falar também da direção. Da produção. Do elenco. Da fotografia. Da perfeição de ambientes e figurinos. Que ambientação - anos 50, era das mulheres chiquérrimas, jóias, luvas, e homens sedutores, ternos, smokings, flores. Vamos para a época onde fumar era chique, trair era chique, ser rico e famoso era absolutamente necessário. Época carnívora e preconceituosa.

Heleno de Freitas, estrela do Botafogo Futebol Clube, foi um ególatra. Ponto. Viveu alimentando-se de sua de sua fama e atingiu seu auge nesta época perdulária. Imperdoavelmente autoritário, arrogante, e violento. Mas era um craque, e mais, era um playboy, um galã. Irresistível às mulheres, e a si mesmo. Não conseguia resistir à sua auto idolatria.

Heleno de Freitas, o original, na camisa de honra do Botafogo Campeão

Eis que nem eu resisti, pois voltei a falar dele, quando devia apenas dizer: eu vi um dos melhores filmes nacionais, caríssimos, já exibidos. Embarca-se no túnel do tempo para o Rio Antigo, Copacabana Palace e toda a beleza de sua piscina, de suas varandas, de suas tentações. As Praias Antigas, limpinhas. Maiôs inteiros, nada de piercings, barrigas fora de forma, e outros poluidores visuais. Atletas batendo sua bolinha com categoria na areia vasta. A beleza eterna de uma Copacabana pacífica, que embora eterna, não existe mais. O filme nos convida a entrarmos no campo do Botafogo, no vestiário, nos bastidores deste grande teatro esportivo que é o futebol carioca, cenário e labirinto de dramas também eternos. Aceitamos o convite e invadimos também o campo. Sentimos forte, no joelho, a falta pesada cometida pelo bicho homem, infrator dele mesmo, pelos pés de sua cruel teimosia. Entrada covarde e fora da bola; geração após geração, ele insiste no golpe em si mesmo.  Perdendo tudo, insiste na jogada. Dia após dia, a derrota se anuncia, se apresenta, se aproxima, o cumprimenta, mas o Bicho Homem, encarnado em Heleno, esse Bicho não a vê.  O destino por fim se cansa e dá-lhe cartão vermelho. Expulso do gramado da glória.
Heleno, na versão Rodrigo, caracterização perfeita

Saímos da sala escura boquiabertos. Testemunhamos um drible de mestre, que marcou o Gol da vitória, desses de placa, de final de campeonato. Jogada do talento, imenso, do diretor Jose´ Henrique Fonseca, que fez uma obra de arte em preto e branco. No maior bom gosto. Alinne Moraes é uma visão, bela, humana, digna, recebe a bola de Santoro com categoria. Grande habilidade no passe de Marcelo Tizumba, enfermeiro dedicado ao ídolo, de quem admirava as fotos em jornais. Ator premiado, Tizumba fez de seu papel secundário um alento para o coração; nos apegamos e confiamos nele, tal qual deveria ser com os cuidadores de doentes na vida real.

E Santoro chutou para o Gol. Sua atuação é hipnótica. O mundo pára lá fora, e ele faz brilhar os olhos de Heleno, de paixão, de raiva e de desespero. E apaga-os, opacos, tristes, velhos e murchos, na sua decadência. Vai do lindo e provocante ao irritante e estúpido.

Rodrigo Santoro transforma-se - é o Bicho de Sete Cabeças, é Xerxes, é Lady Di, é Garrincha, Maradona, Romário. É Heleno, que tudo podia. A quem nada faltava.

E o que te falta, hein, Rodrigo?

Heleno de Freitas e Silvia, a esposa, ou Rodrigo e Alinne - dupla perfeita na jogada decisiva

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