quinta-feira, 29 de março de 2012

Em nome do Jogo

Maison de France
Bem ali,
No coração do Rio


Em nome da Arte
Vamos jogar


Caríssimos, qualidade é qualidade e não tem prazo de validade.

Em Nome do Jogo é exemplo clássico desta afirmativa. Texto escrito pelo inglês Anthony Shaffer na década de 60, a obra correu mundo, em montagens e remontagens para teatro e cinema. Em 1972 contou com Lawrence Olivier e Michael Caine nos seus dois únicos papéis. O autor produziu fartamente; escreveu para Hitchcok, adaptou romances de Agatha Christie, enfim, Shaffer pintou e bordou dentro do estilo, tão britânico and so elegant.

Atual até a última cena. Jura? Juro. O embate entre traído e cúmplice é atemporal, atravessa décadas e continentes; em Shaffer, com muita classe. Sleuth, título original, mantém o espectador mais atento a cada segundo, da primeira palavra pronunciada ao aplauso final. Um texto rico, que favorece a arte cênica e privilegia a palavra representada, que sai do papel, ganha realidade e invade o olhar e a imaginação; palavra voluntariosa, que escolhe seus defensores. Acertou em cheio. Bem verdade que o alvo duplo é formado por Marcos Caruso e Emilio de Mello, dirigidos por Gustavo Paso. Portanto, a partida começa com vantagem. O talento em jogo, perdoem-me o trocadilho, vale a aposta.

Expectativa superada. A interpretação dos dois protagonistas é de tirar o fôlego. Transformam-se no palco, crescem, diminuem, trocam de personalidade, de porte, e de caráter. A trama toma forma no corpo de Caruso e Emilio, que brincam neste jogo com o charme dos profundos conhecedores do assunto. Revezam-se na dança das cadeiras, ora vence o Bem, ora o Mal. Mas quem é do Bem e quem é do Mal?

Dominam a cena, o jogo, e o palco do Maison de France. O cenário perfeito convida à ilusão de ótica. Torcemos pelo acerto de contas entre o premiado escritor e o amante de sua esposa, simples cabelereiro, um imigrante. Cada um seduz com as armas que tem, e ambos conquistam o público, fazendo-nos rir e prender o fôlego. Ansiamos pela revelação da verdade. Verdade? Existe verdade nos jogos de amor e vingança? Existe Mentira na cabeça de quem brinca com a verdade?

Não, caríssimos. Neste jogo não há divisões; não há crachá para os players. A vítima pode ser o vilão. Ou não. Jogando ou assistindo, entre mortos e feridos, saímos todos vencedores.

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