sexta-feira, 9 de março de 2012

Efetivamente, pelo amor de Deus

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Tomara que o dicionário explique


Estou com a pulga atrás da orelha.

Há coisa de um ano comecei a ouvir a palavra EFETIVAMENTE. No trabalho, na pós-graduação, em reuniões de colégio. Programas jornalísticos, em discursos políticos. Utilizada com veemência, com destaque na frase. Achei que era um advérbio de intensidade. Não, não é. Percebi que era maior seu significao: legitima a ação descrita, como a garantir, e endossar que seria executada com a devida qualidade.

Pulga na orelha, olho no dicionário: " Efetivamente = realmente, concretamente e de maneira completa e eficaz; de modo a produzir efeito concreto e/ou permanente."


É uma jura.

Eis que temos aqui, portanto, um fenômeno linguístico, e como tal, sintoma de situações interiores; sinais do nosso common sense. A ação não vale mais por si. É preciso que seja praticada efetivamente. Tem que jurar que vai fazer, senão ninguém acredita.

Então - "você tem que estudar, efetivamente. Você tem que acompanhar esse processo, efetivamente. O governo vai implementar ações facilitadoras à educação, efetivamente. Os alunos serão advertidos, efetivamente."

Apavoro-me. A pulga virou elefante. Os verbos perderam o valor intrínseco; estudar não é mais estudar, absorver, analisar. Acompanhar um processo, então, se não for efetivamente, é enrolação. Coitado do governo: nem todo efetivamente do mundo vai convencer a opinião pública da eficácia de seus atos. Qual a diferença entre aluno advertido e aluno advertido efetivamente? Advertência é advertência, uma palavra fortíssima e carregada de fria autoridade. Dispensa qualificadores.

Sim. A palavra, pura e simples, aparenta não mais ter valor, se exposta publicamente. Precisa fazer-se acompanhar do tal juramento. São tantas promessas que morrem na praia, são tantas palavras ao vento, tantas expectativas que não dão em nada. Tanto desistir, tanto deixar rolar, tanto largar de mão. Esse desleixo contaminou a coletividade, a língua portuguesa e está gerando efeitos colaterais.

O problema é que o tal do efetivamente, olhando de perto, também está perdendo a força. Arregala-se os olhos e pensa-se: "agora vai". Mãos a obra, tudo muda de figura. Algo deixará de ser feito, e se feito, não atingirá o resultado perfeito. As pessoas falham, o governo falha, o coração falha. Não se pode falar em garantias totais. Permanências, eternidades. Pronto, o efetivamente foi-se.

Efetivamente, caríssimos, só no português. A vida real tem mais "talvez", mais " vamos observar", mais alterações de rota que qualquer discurso. Mas estamos desesperados em impressionar a sociedade com nossa competência profissional e emocional. Temos um projeto, filhos, um amor, um trabalho, e se não atingirmos 100% da sua potencialidade, ficamos frustados e decepcionamos alguém. É preciso dedicação, efetivamente, resistência, efetivamente, invulnerabilidade. Superação, de verdade.
E mais: é preciso falar disso o tempo inteiro, ser o melhor, ganhar bem, ser promovido, ser feliz no amor. Ser mãe, efetivamente. Dar tudo de si, sempre, a fim de garantir o sucesso da sua atuação. Qualquer deslize, tem um chato para te catucar e te lembrar, que a coisa não está tão, bem, efetivamente, bem assim: - "o que houve? está tudo bem?."


Pelo amor de Deus. Efetivamente, caríssimos, é o raio que o parta.

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