quinta-feira, 15 de março de 2012

De Incógnito e Louco, todo mundo tem um pouco

Ipanema
Sempre


"INCÓGNITO" - Tradução de Ryta Vinagre, Rocco, 288 páginas - " O neurocientista americano David Eagleman desvenda alguns desses segredos no livro Incógnito – As Vidas Secretas do Cérebro. O best-seller, que foi eleito o melhor livro de ciências de 2011 pelo jornal americano The New York Times, ganha edição em português pela editora Rocco. No livro, Eagleman trata de assuntos como flerte, infidelidade, crimes e inteligência artificial, além de temas curiosos, como o motivo pelo qual é tão difícil guardar um segredo e também sobre o mecanismo de se zangar consigo mesmo."


Caríssimos, é chegada a hora da ceia, aproximemo-nos: este gênio americano, David Eagleman, explicará, entre outros relevantes temas, porque traímos e somos traídos. Tintim por tintim, por A + B. Porquê, Senhor, porquê? Porque não resistimos àquele beijo, àquele abraço, àquele cheiro. Seremos promíscuos? Nada disso.

Eis que então beberemos do Saber. Comprovações técnicas da melhor qualidade e precisão, sobre atitudes de pior qualidade e dolorida confusão.

A culpa é das enzimas. Foi-se a era dos hormônios. As culpadas por litros de lágrimas derramadas são as enzimas. Seguinte: todos temos uma enzima que nos faz desejar uma única pessoa, um único ser que será alvo de nossos mais indecentes pensamentos, pelo prazo cientificamente provado de no máximo quatro anos. Tempo mais que suficiente para conhecimento, acasalamento, procriação e amamentação.
Se durante este prazo, o caríssimo cair em tentação, é porque outras enzimas (más, muito más) proliferaram-se, e anularam esta (boa) enzima da fidelidade. O desequilíbrio enzimático é o responsável pelo desejo incontrolável por outro que não seja o seu par, antes que os ditos quatro anos esgotem-se.

O gênio americano acertou na mosca e ganhará rios de dinheiro. Se aprendermos a rastrear e controlar nossas enzimas, o que é possível com exames de DNA, mudaremos a rota da sociedade. Hoje vivemos, na melhor das hipóteses, no modelo de monogamia sucessiva. Um par de cada vez, sucessivamente, uma relação depois da outra, um amor depois do outro. Isto é aceito, compreendido, e de forma, até incentivado: " - não deu certo? parte para outra". Mas a traição, a bigamia, a engação, isso não. Não vale de jeito nenhum. Isto é motivo de ofensa, mágoa, enfarte, insônia e litígios. A monogamia foi inventada para manter a família ocidental e a ordem social sob controle, e atentados em contrário apavoram os pacatos cidadãos. A fiscalização é geral. Dr.Eagleman está aí para provar que é involuntária a batalha entre a correção e a infração. Controladas as enzimas da infelidade, muitos viveriam tranquilos. Certamente.

Entendemos agora porque espécimes do Bicho Homem simplesmente não conseguem. Empenham-se, juram, dedicam-se à causa. Não conseguirão. São as enzimas da traição, batizadas de R2 e R3, a borbulhar e tomar conta dos infelizes.

Pensemos em conhecidos. Pensemos em passados, em histórias, em desconfianças. Em lembranças. Ficaria mais fácil perdoar se soubessemos que aquele chifre, feio, foi uma mera reação causada por enzimas? Aquelas noites em claro contando horas? Culpa das enzimas perturbadas. Aquele flagra que quase te matou de susto, pressão subiu, perna tremeu, o mundo veio abaixo? Taí. Foram as enzimas malvadas. O bilhete esquecido, o recado lido por engano. A carta anônima. O telefone que toca e ninguém responde. A foto encontrada no vão do armário. A conta de um hotel onde ninguém se hospedou. A indiferença, a solidão, o outro se esquivando. O distanciamento. Tudo na conta de R2 e R3.

Prezado doutor Eagleman, permita-me.

Eu acredito, ainda, que o Amor é maior que teorias. Maior que gênios americanos, pesquisas de ponta e teorias fascinantes. Acredito que o Amor, se Amor é, conduz todos os passos de nossa efêmera Vida, e que não há enzima, hormônio, ou Louco, que me convença do contrário: quem trai, não ama.

Se a traição entrou pela porta da frente, o Amor já saiu pela varanda, a convite do DNA ou de circunstâncias não catalogadas. Onde há Amor, não há Moral, nem Ciência, nem Religião. Há só Amor, perseverante, vencedor, esmagador, Amor, inconfundível, e maravilhoso Amor.

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