segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Flavia Negra Braga

Madrid
Olé
Rio de Janeiro
Ôba

Viva Flavia Enne Braga

Flavia Enne estreando no Rio. Vocal, percussão, flor, Cheichu Sierra no baixo, Leandro Freixo ao piano. Os Arcos da Lapa fazem côro

Ela saiu do Brasil e está pelo mundo há 23 anos.
Soltou-se em vôo para Europa e de lá soltou-se pela superfície do planeta. Espalhou-se pela Espanha, Alemanha, Leste Europeu.

(há gente que viaja; há gente que espalha fragmentos de si pelo planeta, sementes, flores, movimentos, canções. É o caso)


Vez em quando vinha a nossa terra adorada, mas não para cantar. Aterrisava nestas bandas do Brasil para visitar, para passear, para encontrar seus entes queridos. Mas calava para si sua música, que precisávamos buscar nos artíficios modernos. Volta e meia pedíamos um cd, assim, timidamente, queriamos saborear um pedaço de sua voz, paladar brasileiro que faz falta neste cenário tão eletrônico em que vivemos.

Neste mês de janeiro ela retoma sua bandeira na Terra Brasil. Veio cantar. Vem ela, Flavia Enne Braga, pitada de Clara Nunes, pitada de Sonia Braga Gabriela, etnias, orixás. Meus ouvidos leigos identificam Djavan, João Bosco, Jobim. Tem, voz, balanço, tem flor, tem canela, tem chocalho na canela. Pousou sobre um carron, seu banco, seu instrumento, seu pedastal.

Encantei-me. A musa é ao vivo, mais musa.

Faz ouvir-se com clareza e profundidade. Comunica-se ao espectador, apresenta sua personalidade feminina cheia de sinuosos significados. A platéia segue seus pedidos de côro, de backing vocal, de tudo o que pedir.

Sua voz ampla, de mar, de brisa, de sopro, espalha-se entre nós como ela própria faz com sua arte; está diluída no som de sua voz. É enfeite, enfeitou a Lapa, o Semente, enfeitou a noite com sua presença e suas composições. Sim, ela compõe! São letras sinceras de um coração sincero, melodias que balançam nossas alminhas e fazem dançar até os pés mais desajeitados. Composições precisas, palavras fragmentadas, palavras reagrupadas, palavras ritmadas pela métrica e pela sua percussão - sobre um carron, com chocalho na canela, tem triângulo, tem pandeiro, tem ela, e ela sabe o que faz.

Eu dancei. Vi, ouvi, dancei.

Em "Coração Estupefato", percebo e concordo: que um coração só é pouco. Muitas vezes nem mil corações darão conta de tanto amor que se experimenta, amor que nos reorienta em rotas novas de mais amor...

Em "Azureando" assistimos a um transbordo de cores e de paisagens. Desfilam alegres visões em suas expressões criadas para melhor multiplicar esse olhar; são lascas de azul, deste tom encontrado em viagens, pelas janelas de carros e aviões, pelas proas de barcos. " - Dá tempo?, ela pergunta, como se o tempo não estivesse também em sua platéia, parado, para assistí-la. "- Então vamos fazer "Colorimar". E vem. Palavra composta, palavra linda, que tem mar, tem cor, que tem ela, Flavia Braga Clara Nunes Gabriela.

Tem consigo músicos de primeira: Cheichu Sierra, cordas. Toca seu baixo, seu violão, toca para a musa sua arte inteira. Ou muito me engano, ou é paixão verdadeira. Tem um piano, classudo, e seu pianista, Leandro Freixo, teclado de mão cheia. Flavia nos explica que o objetivo é divulgar seu trabalho, mas que cantará Águas de Março. Cantou mesmo, e isso é que é cantar. Eu sabia que em sua voz cada palavra teria novo sentido, lama é lama, corte no pé dói, coração é coração pulsando, promessa de vida é vida em abundância.

Ao fim da apresentação, a divina mistura-se a seu público. Desce de seu carron, e repercute sorrisos, beijos, abraços, fotos. Simples, é despojada, está ali, vestido branco. A rosa vermelha de seu microfone agora no vestido, no echarpe, no cabelo; a rosa que enfeitou o palco em pé entre nós, após ter-nos conduzido música afora. E eis eu que sou surpreendida pelo pianista. Moço galante, beija minha mão e a segura entre as dele. Segue em elogios, elegantes, logo para mim, senhora de avançada idade e coração comprometido. Ai. Esse moço entende de piano, de galanteios, e de canção.

E Flávia entende de música. Vamos aproveitar a presença de Flávia Enne Braga em nossas terras antes que o vento a leve para longe; usufruir deste talento brasileiro, deste som, deste carron. Os europeus a tem há anos, em festivais, em recitais, em espetáculos. Covardia. Estávamos nesta fila, e chegou a nossa vez, privilegiados que somos. Temos artistas de primeira que voam pelo mundo, e voltam, pássaros ainda mais coloridos, para voar no nosso Brasil.

Flávia Negra Braga. Que venha para ficar, que venha para cantar, que venha para brilhar.

A musa, em seu sorriso de estréia

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