sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Espera que é hora da FESTA

Rio de Janeiro

Rio, rios, janeiros, outubros...junhos...

Esperas
"Quem espera sempre alcança" - Sei não



Desenvolver tolerância e paciência. Exercitar a humildade. Exercitar a virtude da condescendência. Evoluir. Perseverar. Ter consciência da simplicidade da vida diante da amplitude do universo.

Muito que bem. Vamos praticar.

Você é convocado, caríssimo, intimado ou notificado, sei lá a nomenclatura correta, e precisa depor na Justiça do Trabalho. Você sabe da importância de seu depoimento. Você tem um documento oficial em mãos com o selo nacional, seu nome completo ali, printadaço, e você, portanto, vai depor.

Audiência às 13:50. Você chega às 13:15.

Fila no prédio moderno da Rua do Lavradio. Fila para o elevador, fila andando, rápida, você até se anima e pensa que hoje não será como das outras vezes em que esteve aqui e não pode registrar sua narrativa nos autos do processo. A primeira vez houve uma coisa qualquer que precisava ser corrigida pelos senhores advogados; na segunda vez a justiça estava sem sistema, fato impensável, visto que a justiça é a garantia do sistema.

Bem, você então chegou antes da hora e aguarda o momento em que poderá abrir a boca e dizer o que viu, especialidade minha.

Às 15:00 seu nome é anunciado em um microfone desafinado. Meio assustado, você adentra a mesma salinha conhecida. Uma senhora juíza em trajes de onça e cabelo acaju diz-lhe, que o processo é muito longo e que não sabe se ouvirá todas as testemunhas, até porque, a escrivâ, funcionária concursada da justiça,tem uma FESTA, e precisa deixar o recinto Às 17:30 no máximo. FESTA. FESTA. FESTA. Palavra inacreditável que ecoa na atmosfera judiciária. Pronunciada com o tom solene atribuído a CONDECORAÇAO, talvez, mas foi FESTA mesmo a palavra que ouvi. Sem outra opção, e atônito, você volta para a sala de espera. Pode ser que tenha aguardado estas horas em vão.

Às 17:00 você é informado que de fato não será ouvido. Sabe-se que a escrivã tem uma a FESTA e você vai para casa, para o trabalho, para o raio que te parta, porque depor você não vai.

Volte em Junho.

Eu não sei o que você faria. Mas sei o que fiz. Saí. Para nunca mais voltar. Quem quiser meu depoimento que venha atrás de mim em viatura policial com sirene ligada. Nào me mande cartas. Quem quiser meu depoimento faça de um tudo mas náo me mande a tal carta, notificaçao, intimação, náo me lembro o nome da correspondência que eu recebi; afirmo, sob juramento, que não será respondida com o meu deslocamento obediente. A partir desta desfeita, desloco-me somente para responder a cartas de amor.

Senhores, este fato teve lugar em 27 de Outubro, na 69a Vara de Conciliação e Julgamento, e é real. Antes fosse ficção. Por três vezes fui ao prédio judicial da rua do Lavradio para contribuir para a apuração de fatos; por três vezes fui tratada como se meu tempo nada valesse, como se minha ausência ou presença não fizesse a menor diferença no processo, ou por outra: como se a autora da ação, iniciada em 2009, fosse uma marionete na mão do tão decantado Estado Democrático de Direito. Trata-se de uma honesta trabalhadora, cumpridora de seus deveres, pontual e assídua.

O maior valor que temos é o nosso tempo. Esse sim é nosso euro, nosso real, nosso dólar. É nossa moeda de troca; bem usado, o tempo garante uma existência melhor.
Mau usado, afundamo-nos. A juíza náo sabe quanta coisa eu tinha para fazer por mim, pelos meus colaboradores, pelos clientes, pelos meus filhos, e náo fiz. Joguei tempo fora.

Não. A juíza náo pensou na autora da açao, nas testemunhas, nas advogadas, nas prepostas. Pensou somente na festa da escrivã.

Aliás, sra. Escrivã. Sua FESTA custou horas do nosso valioso tempo e mais alguns meses para a trabalhadora requerente dos serviços estatais. Constitucionalmente garantidos.

Tomara que tenha sido muito boa.

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