segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Rei Leão

O Rei
O Leão
Culpado
Castigado
Libertado



É preciso viver, e viver não é brincadeira não.

O Rei Leão que o diga. Sua história é bem dura para um conto infantil.

A trama reúne traição, morte, culpa, condenação, e por fim, a vitória.

É o seguinte: O Rei, Musafa, morre em uma emboscada, vítima de seu próprio irmão, Ascar. Esse malvado incute no herdeiro legítimo - Simba - culpa pela morte do pai. Convence o sobrinho de que foi ele, o único filho, o responsável pela tragédia e que somente o exílio evitaria um desgosto ainda maior à Rainha Leoa. Anos passados, o Leãozinho no exílio, o Rei Cruel no poder.
Mas há fofocas também no reino das savanas africanas, e o Leãozinho descobre a verdade. Volta, grande, belo, forte, liberto de sua culpa, para lutar e assumir seu trono. Vence. O bem triunfa, em linda canção e coreografia, e todos nós nos sentimos vitoriosos e vingados.

Uma historinha difícil de contar para crianças pequenas. A idèia da morte, ganância e traição bem definidas no enredo. Os espectadores de menor idade precisam de muita explicação, e as mummys ficam como tradutoras. As palavras usadas nos diálogos reforçam a idéia de que crianças com mais de 7 anos entenderão melhor - os bichos bons utilizam todo um linguajar real com suas reverências e formalidades, e os bichos malvados, os deboches e ironias.
Para levantar o astral, o exílio é alegre. Os párias da sociedade, o porco e o cachorro, são hilários, os atores convencem, e a vida é animada à margem da sociedade.
Curioso isso - o exílio é mais alegre que a vida na corte, há união, amizade, cantorias, risos. Praticam o HAKUNA MATATA, que quer dizer SEM PROBLEMA, o velho lema NO STRESS ou BE HAPPY. Adorei. Estou praticando desde então. Vem um problema, eu ignoro. Percebi que os expulsos do reino (e eu) vivem assim muito melhor. Seguirei.

O leãozinho volta então um leãozão. Livre da culpa, fortalecido, enfrenta o tio mau, domina a situação e reina. O Reino de Simba.

As crianças entenderão mais tarde. O mundo adulto é um jogo de culpa - castigo - perdão. Começo, recomeço, conquista, reconquista. Acusações. Julgamentos, condenações. Liberdades. E não há macaquinhos para cochichar que você é inocente. Que você, criatura selvagem, é livre, não errou, não pecou, e pode ser feliz. É preciso encontrar, por nossos próprios e falíveis meios, a aprovação e a defesa de nossos atos. E a reviravolta, a conquista do reino, depende exatamente disso. Empurrar para longe os inimigos íntimos. Resistir às tramóias invisíveis. Matar seu predador, a cada dia.

Não devo, mas vou dizer. Faltou. Faltou mais capricho. Para um público exigente, os figurinos parecem incompletos, faltam acessórios para as patas, fundamentais para a caracterização de animais; a caracterização não corresponde ao imaginário infantil, e o leão jovem foi confundido, por vários infantos, com um macaco. Sua movimentação não é a de um felino.

A atriz que faz o macaco é a melhor. Disparado. Potência de voz, macaquices, movimenta-se rápida e desengonçada como os macaquinhos mais levados. É acrobata e se pendura em um cipó como ninguém. Mas ela conspira contra a gramática:-" Que os deuses o proteja, que os bons ventos o traga " - bem alto, peito estufado. E apunhala de novo o português, no momento agradecimento - "Tem três pessoas que foram inevitáveis para a realização desta peça."
Senhora, senhorita, d. Macaca: as pessoas são imprescindíveis ou fundamentais. As situações é que são inevitáveis. Desculpe, não deu, pronto falei.

Falemos da parte que agradou muito mães, avós, babás. É a estréia do galã Cassio Reis como empresário / produtor de teatro infantil e ele estava presente, lindo e louro, com o filho Noah. Um mimo para os olhos, um rapaz jovem, empreendedor, acompanhado do filho. Sem dúvida, sua subida ao palco ofuscou os atores. O bonito agradeceu educadíssimo a presença de todos, e explicou: "Escolhi esta peça porque ela mostra o valor da fé, do que a gente traz de bom no coração. Prova que o amor vence no final".

Tomara, Cassio, tomara.

Nenhum comentário:

Postar um comentário