quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Daniel Boaventura, bem aventurado

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Daniel Boaventura, no espetáculo Songs 4 You, apresentação única no Teatro Oi Casa Grande


Português claro? Achava meio over.
Muita empostação e muita pronúncia correta de idiomas, como a querer impressionar. Bonito, uma beleza assim correta por demais, como retocada. Confessêmos, a Tv não reservou-lhe os melhores papéis. Professor de malhação e cantor-investigador de cantina italiana. Sucesso em musicais, como Evita, e A bela e a Fera, Fantasma da Ópera, mas, vamos lá, são muitos os bem aventurados no ramo. Somos o terceiro país do mundo em musicais, um indicador extraordinário para o nosso Brasil, um país com tantos problemas de educação e cultura.

Mas meu amor é meu amor e sempre tem razão. Disse: "- Vá, Nêga. Daniel canta muito." Obediente que sou, fui ver e ouvir Daniel Boaventura no Leblon.

Nada como ir. Ir para experimentar, ir para crer, ir para ver e poder dizer. Daniel Boaventura é o máximo.

Acompanhado por músicos fantásticos, com destaque para o maestro e pianista Ricardo Leão, ele oferece um show inesquecível. Abre a noite com a imbatível Fly me to the moon. Metais de primeira. Backing vocals exatos, fazendo aquela segunda voz que é um aconchego para a estrela, um acabamento, um requinte. E ele avança palco a dentro arrancando gritos e aplausos: o rapaz, é, de fato, belo. Pinta de bom moço, de galâ bem intencionado. Prossegue cantando She, e eu derreti.

O cantor é formal com seu público, distintamente carinhoso. Tem um sotaque, ainda, longe, da Bahia, misturado com um sotaque paulista, e o resultado é uma voz que canta mesmo quanto não canta. Dirige-se ao seu público com gentileza, com palavras bonitas de nossa língua bonita. Comporta-se como um gentleman, formal, cordial, terno, gravata, colete. Seu momento mais corpo a corpo, digamos, é no dueto com a vocalista Cacau Gomes, um show à parte essa moça. Cantaram a música tema de O fantasma da ópera, a romântica "- That´s all I ask of you", suaves, ternos, habéis. Olho no olho, voz na voz, nota na nota, inglês no inglês. Voz que vai, que vem, que alteia, distancia, retorna, aproxima, pede, atende. As vozes dançavam, e os dois também: ensaiaram um cheek to cheek na maior elegância.

Champagne e Amore excusa mi. Mambo italiano. New York, Hello Detroit, e vamos que vamos, cada música melhor que a outra, cada arranjo melhor que o outro, cada idioma melhor cantado que o outro. Cadeiras dançavam. Ele vai e volta para um bis imprevisível - Barry White. Sua voz grave, de barítono, balança, dança, dançamos todos, todos em pé, disco time, era dia de festa.

Temos sim um cantor de primeira grandeza, sangue brasileiro e nível internacional. Pode gravar com Tony Bennet, com Seal, com Andrea Boccelli, ou com qualquer monstro da voz, em qualquer estilo. Será um orgulho para nossa música. Se eu pudesse opinar: seu lugar é no palco, ao vivo, cantando a plenos pulmões. Cantar, caríssimos, é para quem pode, e ele pode e deve.

Se este mundo for justo, será aplaudido e reconhecido pelas melhores platéias do planeta - sua voz é grandiosa. É exímio, e interpreta com sentimento e precisão as mais lindas músicas de todos os tempos. Ouso dizer: sua voz tem o brilho de um Cauby, o swing de um Simonal e a potência de um Pavarotti.

Como não bastasse, tem a beleza de um Daniel Boaventura.

Nota: cumprimentos aos responsáveis técnicos pela qualidade de som do teatro, limpo e cristalino

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