terça-feira, 20 de setembro de 2011

O abraço

Rio

Ressurreiçao

Arpoador


O abraço da infância


Hoje fui a um compromisso muito triste. A missa de sétimo dia pelo falecimento de uma senhora muito, muito especial para mim, mãe de uma de minhas amigas de infancia.

Recebia-me em sua casa com amor e carinho; sua casa era meio minha também. Conversas, paparicos, comidinhas preferidas.
Sentia-me refugiada, acolhida, compreendida.

Anos a fio, transformaçoes a fio, conselhos, brincadeiras, passeios, ensinamentos, ensinamentos, ensinamentos. Amizade.

Fui muito amiga de suas filhas, da mais velha e da menor.

A mais velha, ídolo, musa, professora de etiqueta, maquiagem, estilo.

Eu a reverenciava.

A menor, éramos como irmãs. Na infância e primeiros anos na adolescência, fomos inseparáveis. Confidentes, parceiras, unidas. Não havia festa sem ela, estudo sem ela, bolo de laranja sem ela, pipoca sem ela, praia sem ela, cinema sem ela.
Não havia assunto sem ela.
Na alegria e na tristeza. Juntas.

Mas vieram os anos seguintes, de colégios diferentes, faculdades diferentes, destinos diferentes.

Os anos passaram sem que eu tivesse contato com ela. Notícia aqui e ali, uma foto em revista, em notícia, em Tv, em Jornal. A mesma menina bonita, comportada, reservada, agora bem sucedida, e ainda mais elegante, altiva. Nas fotos demonstra discriçao e firmeza, e suavidade. Tem o phisique du role de uma Kate, uma Letizia, uma Victoria, uma Charlene.

Fui ao ritual católico da póstuma homenagem a sua mãe. Náo sabia como a companheira de estripulias me receberia. A mais velha sim, eu sabia, é uma festa encontrá-la volta e meia em Ipanema. Encantadora, exuberante, passional. Fez questáo de minha presença, e eu sabia de seu abraço.

Como a minha parceira de levaduras me receberia neste momento de dor? Talvez com um aceno, um beijo simples, uma formalidade.

Nada disso. Foi ela a primeira que encontrei na Igreja. Nos vimos e nos reconhecemos no primeiro minuto.

Abraçou-me imediatamente. Chorando, eu disse que gostava muito muito de sua mãe. Ela disse - Ela também gostava muito, muito, de você.

Um segundo depois, ela falou, a voz embargada, emocionada: Tempos Felizes.


Outro abraço, sentido, demorado, sincero.

Sim. Emocionada estou eu. Neste momento de tristeza, sinto que vivo um tempo feliz. O tempo de hoje, em que pude levar-lhes meu abraço.

Trilhei o caminho do coração, e foi-me permitido estar com elas neste dia, e mostrar-lhes que a dor delas é minha também.

Neste abraço de amiga eu recordei, grata, nosso convívio tão especial, ao longo de anos tão especiais.
Anos orgulhosamente lembrados. Saudosamente lembrados.

E pude matar a saudade que senti, todos esses anos, da minha querida amiga de infância, que o tempo e a vida levaram para tão longe de mim.

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