segunda-feira, 2 de maio de 2011

O amante

Arpex
Juro dizer a verdade e somente a verdade


Este filme não é sobre o outro homem. O amante.
Tampouco sobre o reino do desejo, que não escolhe seus súditos.
Sobre a irrestível seduçao do proibido.

Não.

Este filme é sobre a Mentira.
A mentira que cria uma realidade suspensa, rica em detalhes, e distante da realidade visível, mas ambas são concretas e podem ser definidas precisamente.
Uma repudia a outra. Não convivem.

A mentira empurra uma pessoa para perto e outra para longe. Depois empurra o próprio mentiroso entre ambas a pessoas, e contra si.

E em cima da mentira inicial, outra para sustentá-la, e uma terceira para que acredite no que já não se acredita. Multiplicou-se.

A mentira como um novelo de lã, macio. Puxe o fio, desenrolará afiado arame farpado e todos se cortarão.

Ela tinha um amante. Banderas, lindo, sexy, faminto.

Ela mente para o marido. O amante mente para ela.

O marido mente para o amante, para descobrir detalhes, em investigaçao masoquista e obsessiva e para castigá-lo, cruelmente, conta mais mentiras.

Promove no outro a dor que sente. Talvez maior.

Apavorada, penso que a mentira é um mágica a serviço do egoísmo. Ninguém mente senão para seu prazer.

Conceituar o prazer, definir as premissas éticas que justificariam uma mentira é impossível.

Dizer que nenhum prazer justifica uma mentira é uma hipocrisia.

Cada um sabe até onde a verdade se torna insuportável, e todos mentirão em algum momento.
Esse planeta não é uma terra de santos. Viemos para pecar um pouco sim, mas não queremos o castigo. Deixe o Castigo para Dostoievski. Mentiremos para nos livrar da forca e
respirar o cheiro bom que vem dos cabelos de quem amamos.
Se a verdade te condena, você não está obrigado a confessá-la. Pilar sábio da legislaçao brasileira. Reconhece os fatos.

Não se iludam. Não somos melhores que os três mentirosos acima.

Talvez ludibriemos menos, com menos recursos, por motivos diferentes. Mas o faremos sempre que necessário por amor e por prazer.
Para proteger, para possibilitar, para avançar ou se esconder; para evitar confusões ou para criar confusóes. Para confundir o real e o sonho.

Mentimos para fugir e para tentar conciliar.

Mentimos, somos assim, não vamos negar. Seria mentir de novo.

Há os que enchem o peito e afirmam que sempre dizem a verdade.

Cuidado. "A verdade é só uma história bem contada, em que todo mundo acredita" (Monteiro Lobato)

Nenhum comentário:

Postar um comentário