sexta-feira, 6 de maio de 2011

Eu sou muito bom

Botafogo
Pequenas palavras
de um menino pequeno


Entramos no táxi, eu e Pedro, meu filho pequeno. Um pássaro tropical, que fala português.

Ele carrega sua bola de futebol, garoto brasileiro.
Sentamo-nos lado a lado, ele quer ver o painel do táxi, e se aproxima do motorista pelo vão entre os bancos da frente. Eu o seguro, e peço que volte para colocar o cinto.

O garoto fica meio amuado, abraça a bola forte no colo. O motorista puxa assunto para amenizar o clima. Deve ser pai. Pergunta: Joga?
Pedro enche a boca, e solta: "Eu jogo sim, e sou muito bom".

Rimos.

Pensei que bom, esta criança tem orgulho de si, de sua habilidade. A desejada auto estima.

Nos livros de psicologia infantil os especialistas ensinam que a auto estima se forma quando a criança constata que consegue executar ações com sucesso. Muito mais importante que elogios, o infanto precisa perceber do que é capaz.

Ficamos adultos e perdemos essa percepção de nós mesmos. Estamos competindo com o vizinho, estamos correndo contra o relógio. Disputando um lugar no mercado e no coração de quem amamos.
Somem de nossa vista as qualidades de nossa essência. Some de nós nossa essência. Fica mais difícil nos elogiarmos; o que vemos de louvável não devemos comentar em público. Temos medo de parecer pedantes. De não sermos politicamente corretos.

Não. Vamos lembrar desse pequenino, que apresentou-se a um estranho dizendo como ele é bom.
Vamos mudar nosso texto. Digamos, e bem claramente, que somos bons sim.

A roupa que usamos é bonita, que somos cheirosos e inteligentes.
Nosso dever está correto. As crianças dizem isso tão facilmente.
Afirmam, a quem quer que seja: "ganhei uma bicicleta linda da minha madrinha linda. Ela me ama muito"
Mas nós, crescidos, adestrados pelas medos, não conseguimos dizer: "ganhei um vestido lindo de meu marido lindo. Ele me ama muito"

Não confiamos em nossas afirmativas. Talvez não confiemos que somos amados, e merecedores destes amores. Ou simplesmente tememos o olho grande alheio.

Dizemos: "é, ele me deu um vestidinho".

Meu amor tem uma frase maravilhosa. Quando uso um vestido que ele me deu - sabe que adoro vestidos - ele fala: "é, quem te deu gosta de você"....
O vestido fica mais bonito, e o presente é recebido de novo. O poder da reafirmação dos bons sentimentos.

O amor e a auto estima adquirem consistência através de gestos e palavras. O exercício do sentimento é fundamental para que migre do reino dos substantivos abstratos para o reino dos substantivos concretos.

A meu pequeno, respondo: é, eu também sou muito boa.
Tenho um pássaro raro, que canta em português, e que me ama muito.

Sorriso lindo do craque Pedro

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