domingo, 22 de maio de 2011

Desviradão no Arpoador

Rio de Janeiro
Dias 20, 21 e 22 de Maio

Viradão Carioca
Palco Arpoador


O Arpoador náo precisa

Arpoador, 20, 21 e 22 de Maio.

Sou do Arpex. Aqui matei aula. Aqui mergulhei em dia de mar bravo, e em dias paradisíacos.
Toda minha geração passou pela Praia do Diabo, subiu até a Pedra do Arpoador e parou de respirar para ver o pôr-do-sol mais lindo do mundo.

A primeira lona do Circo Voador foi aqui.

Aqui assisti Marina Lima e Lulu Santos, nos anos 90.
Show antológico de Adriana Calcanhoto.
Aulas públicas de Jayme Arôxa e Maria Antonieta, dama que hoje dança na gafieira do céu, porque se tem gafieira, é no paraíso.

Aqui nasci, me criei, e crio meus filhos.

Não me venha agora a Rio Tur virar o Arpoador de cabeça para baixo. Temos uma legião para defender o bom e velho Arpex, esse hippie romântico, surfista, sereno transgressor. O Arpex é terra de paz, e de amor; terra de convivio pacífico das tribos cariocas. É semente de Ipanema, que se abre em Flor dois kilômetros adiante.

Mas a Rio Tur pisou na bola. Montou o palco do Viradão de frente para os peixes.
Virou o palco para o Mar. Os peixes, senhores, tem sua própria diversão, em seu universo azul. Nào são espectadores do Viradão Carioca 2011.

O povo tinha quer ter pescoço de girafa, e portar binóculos. Ou visão lateral de longo alcance.
Ou alugar um barquinho e ver do mar, essa sim opção mais digna para nós, litorâneos.

O teláo estava na praça do skate, ponta da nossa península. Deve ter no máximo 30 metros de diâmetro, e onde com boa vontade cabem duzentas pessoas.
Mas as duzentas pessoas não couberam, porque à direita, senhores passageiros, os banheiros químicos, alinhados como soldados, e muito fora da validade. E à esquerda, os caminhões de luz e som, esmagadores. E mais banheiros químicos exalando seu odor natural.

O teláo, ao fundo. Os coqueiros, merecidamente, assistiram em primeira mão

Continuamente, uma arquibancada imensa do campeonato de surf. Merchandising para a Billaboing, logotipo visto e revisto por todos que foram ver os shows.
Não deve ter acontecido o campeonato, porque onda náo havia, nem marola, nem por acaso uma correntezinha mais forte a mexer as águas marinhas. Os organizadores não sabiam do Viradão ou o Viradão não sabia do campeonato? Inexplicável.

Os empresários do surf náo deixaram por menos

Quem assistiu em conforto? Os convidados que conseguiram deslocar-se pela multidão, e triunfaram ao entrar na àrea vip montada e reservada com capricho. Esses sim assistiram, e de camarote. O pessoal local não viu. O pessoal do Pavãozinho náo viu. O pessoal da Galeria River náo viu. E o pessoal que náo é local, nem do Paváo, e nem da River, que veio de longe, de ônibus, de metrô, esse pessoal também não viu.

O aparato inacessível para os convidados, localizado à direita do telão. Chegar aí, só com proteçao policial

E eu sequer ouvi, porque o local seguro mais próximo era distante demais.

E eu não vi a Cor do Som, e não cantei com eles que dinheiro não, que é melhor beleza pura.
E eu náo vi meu titã preferido, meu tribalista, não vi Arnaldo.
Não vi as orquestras, o circo, náo vi Céu, náo vi Blitz, náo vi nada.

Eu estava espremida e agoniada entre os banheiros químicos, os caminhões de som, filmagem, e luz.

Afastei-me da multidão e entreti-me por um momento assistindo dois argentinos mais adiante. Mambembes, que pilotavam duas marionetes a tanguear Gardel, por trocados.
Mejor, y mucho. De perto, ao vivo, escutar a música, ver os artistas. Sentir seu capricho e sua concentração. Pedi para fotografar, Responderam: "No no no, por favor no. Nosotros no estamos prontos para fotos hoy. Gracias" e assunto encerrado.

Era o que deviamos ter dito aos organizadores. Viradão no Arpoador? Não. Assunto encerrado.

No Arpoador, ou se faz direito, ou náo se faz.

Para quê mais?

Nenhum comentário:

Postar um comentário