sábado, 7 de maio de 2011

Clichê

Leblon meu
Clichê seu
Carne e unha com você


Repita-se

Foto: Divulgaçao
O fantástico Lucio Mauro Filho
Texto de Marcelo Pedreira, direçao de Rubens Carmelo


A voz do povo é a voz de Deus, e se há fumaça, há fogo.

Filho de peixe peixinho é, e quem sai aos seus não degenera.

A brincadeira é boa, e se você entrar nessa,

vai ver com quantos paus se faz uma canoa....

Lucio Mauro Filho, em monólogo, desfia uma hora e tal de expressões populares da língua portuguesa - nome rebuscado para clichê.
Sozinho no palco, sem cenário algum. Incidências musicais mínimas e marcantes. Melhor assim. Percebe-se unicamente o texto, perfeito, e o talento, explosivo.

O texto. O show das palavras perfeitamente organizadas.

O autor Marcelo Pedreira (começou com o pé direito) faz uma lista das nossas frases feitas. Nada substitui o talento e lista faz um sentido absurdo. Imenso. Uma onda de clichezinhos fofos, bobos, irônicos, publicitários, românticos, filósoficos. A onda me pegou e eu não descanso enquanto náo pegar aquela criatura...

Brincadeirinha. A brincadeira é convidativa e irrestível.

O ator também. Impossível não render-se a ele. Só, ali vale por mil. Interpreta à exaustão, tem aquele quê do louco, do gênio, do trasgressor, com seus olhos saltados, e sua mobilidade pelo palco e pela platéia.

Ele se move pelas fórmulas linguísticas. Pelos conceitos formatados, embalados para o consumo imediato, prontinhos nas prateleiras da comunicação. É uma grande paródia do linguajar nacional, e você ri, até de nervoso, porque descobre que está presinho nesse círculo. Fala que eu te escuto. Quem não se comunica, se estrumbica, e nada, nada se cria. Tudo se copia.
Somos metade da Laranja, Fábio Junior,
Somos o Guanabara, tudo por você.
Somos fruto do meio, e o mercado não recebeu bem nossas medidas econômicas.
Somos cheios de nove horas...
E eu te desejo noite e dia

Tente dizer o que não foi dito.
(Eu não consigo. Gosto de repetir: Te amo, clichê delicioso que fala por si só...)

Roberto Carlos, Manoel Carlos, Ritchie. Tente dizer que o amor acabou, mas não diga que o outro é uma pessoa maravilhosa... tente, invente, faça um 2011 diferente.

Mas não conseguiremos como o Mauro Filho. Ele inovou batendo na mesma tecla. Criou de fato, o clichê novo.

Dois rapazes inteligentes na porta do teatro afirmam que houve um repetir, por duas ou três vezes, de expressões idênticas, em momentos diferentes: teria sido por engano?

Confesso, meninos, essa não vi, comi mosca.

Veja o Mauro no palco. Vá ao teatro. A gente se vê por aqui.

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