sábado, 2 de abril de 2011

Simonal , ninguém sabe o duro que eu dei, Parte II

Oi, Ipanema
Voltei,
e vale a pena
Tudo vale, se é em Ipanema


Simonal, no apoteótico show do Festival

Senhores, viva o Oi Futuro de Ipanema.

Viva o atraso de 40 minutos, que quase expulsou os poucos presentes, mas que nos deu mais 40 minutos ali, no coração da Ipanema da minha infância.
Ali tudo é melhor. Com chuva e com atraso também.

Enfim, eu estava lá. Fui assistir mais Simonal, agora em debate. Adoro debater, discutir, discordar. Quero um pouco de discórdia, traz movimento ao pensamento.

Miele estava lá. O diretor Michael Langer estava lá. Tarik de Souza, um monstro de conhecimento musical, Marcelo Junot, crítico de cinema. Ouvi Miele dizer a produtora: vamos esperar se chega mais alguém. Não chegou. Boicataram de novo o meu Simonal. A ausência de público é a pior vaia para o artista. Sou mais fiel que gostaria. Fiquei para aplaudir.

Desconfio. Porque não houve nenhuma divulgação? Porque não anunciaram as presenças ilustres? Lotaria, claro, ainda mais a entrada era franca. Faltaram a pompa e circunstância de praxe para dar mais dignidade e quórum à memória do meu Simona. Tenho a honra de tê-lo assistido pela quinta vez e embarcado na mesma viagem. A platéia sobe ao auge da alegria, da fama, do sucesso, e desce com ele até o fim triste de sua vida. Ficamos sentados, sem saber o que fazer por Simonal e pelo debate. Miele diz que vai tomar um drink.
A produtora diz não, fique. Pelos presentes. Sobe a tela, surgem quatro cadeirinhas no palco.

Alívio. Os presentes relaxam. Teremos o privilégio de um debate particular, com feras, de alta qualidade.

Iniciam comentários sobre o aspecto cinematográfico. Penso que perdi a viagem. Quero saber da vida do Simona, caramba. Salva por Miele, que em sua irreverência elegante assume a liderança da situaçao e pergunta ao Tarik, um baú musical, quem foi Simona para a música brasileira. Aí sim entendo porque fiquei. A onda de carinho e admiração espalha-se pelo ambiente, pequeno, e muito chique. Éramos todos fãs e não entendíamos como um talento pode se enterrar deste jeito. O diretor, tenho a honra de dizer, concordou comigo: ele se enterrou.
Tentou reerguer-se por um breve momento mas náo conseguiu mais.

Miele apresenta deliciosas fofocas da ocasião: o show que produziu entre Simona e Sarah Vaughan foi marcado pela inicial arrogância dela, que teimou em não recebê-lo por três dias seguidos, para acertarem detalhes do texto. Trouxe seus músicos e queria se fazer acompanhar por eles. No ensaio foi surpreendida pela mãalícia brasileira: Miele combinou com o Som 3 arranjos impossíveis de serem executados por quem não fosse da banda. Vitória maior: Sarah entendeu o recado e amansou-se. Disse que nunca tinha feito nada igual e virou figurinha fácil no Brasil. Langer pergunta se Simonal ficou com a grande dama, não, claro que não, com aquela peruca estava igual à mãe do ídolo. Risos, vários.

Muitas questões traduzindo a revolta para com os artistas que fecharam as portas ao maior talento que já houve por aqui. Não souberam perdoar. Miele afirma sucessivamente, que tentou reunir as boas simpatias. Boni tentou. Oitenta e quatro artistas de peso assinaram uma lista pedindo para sair da Globo se o Simonal aparecesse por lá. Desculpe, senhor, meu amor não acredita que ninguém enfrentasse o Boni desta forma, e meu amor sabe o que diz.

De tudo, fiquei impressionada com a sabedoria do jovem diretor, que assume seus 36 anos, poucos para o tamanho de sua ampla competência. Disse que a natureza humana é assim: quer criticar, apontar, julgar. Quer rotular, perseguir, crucificar - fizemos com outros também, que nào se permitiram derrubar. Dois: que nào há, no Brasil, outro material tão fascinante para um documentário. Três, e mais que tudo: essa história não tem final feliz para ninguëm. Simonal perdeu tudo, o contador ficou com fama de ladrão pela vida toda, nunca mais se empregou em lugar nenhum, vive na pobreza. E nós perdemos o maior cantor que já tivemos.

Miele indaga a Tarik quem é seu herdeiro musical. Arrisca Emilio, o Santiago, com hesistaçao, é o único que teria a mesma competência. Miele discorda.
Meu amor me explica que é pelo timbre, pelo suingue, por ser também negro. Mas Emilio, concordemos, não seduz as massas, predominantemente femininas. Nem quer isso. Falta o furor que Simonal causava.

Falta gente nesta platéia, e falta Simonal no Brasil.
Aplausos, poucos e sinceros.
Miele, produtor que é, indica: vamos todos para casa ouvir "se você quer ser minha namorada" e "minha" na negra voz do enterteiner.
Aceitem o convite, não como póstuma homenagem. É mais que isso. É divino.

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