domingo, 17 de abril de 2011

Saltimbancos - ricos e livres

Ipanema, para sempre

                                                              
Foto: Divulgação
De baixo para cima: Telma Leite, Ruben Gabira, Maria Lucia Priolli e Claudio Gardin


"Nós Gatos já nascemos pobres
Porém já nascemos livres,
Senhor, senhora, senhorio,
- Felino! Não reconhecerás
" (Chico Buarque)

Livres e, portanto, felizes,
já que náo há nem pode haver,
riqueza maior que a liberdade.

E digo, mais felizes que os humanos,
que nascem indefesos,
e presos portanto,
a quem os cuide,
sem o quê não podem sobreviver.

Sim, eram explorados no campo.
Eram cativos na mansão.
Os bichos então fugiram,
e partiram para a cidade,
em busca de música e liberdade.
Que pena.
Viram que a cidade não era de crianças,
era de adultos,
continuariam escravos do patrão.

(Os adultos nascem bons,
mas podem tornar-se maus,
e espantarão os bichos e as crianças.)

Os bichos de Chico são sábios, muito sábios.
Viram que o sonho trazia perigo,
desistiram,
voltaram para o meio do caminho.

Construíram um lar deles,
de todos eles,
felizes, iguais,
sem senhorio,
na cantoria,
o jumento, a gata,
o cão e a galinha.

Sou obrigada a cantar com eles.
O meio do caminho é um lugar muito aconchegante,
se arrumado com capricho
com jeitinho,
o sítio parecerá um castelo lindo,
e nos protege, com carinho,
de sonhos ousados, arriscados.
Ali podemos ficar juntos,
e ter sonhos mais seguros.

Eu, você,
os saltimbancos,
os libertos,
os espertos,
os puros.
Vamos para o sítio,
onde a liberdade é total,
onde todo mundo é igual,
e onde a gata canta toda noite,
onde não existe certo ou errado,
onde o cachorro é o soldado,
a galinha a cozinheira,
o jumento manda no pedaço,
e a gata é a estrela.

Este espetáculo está em cartaz há trinta anos.
Escrito em 1977, por Luiz Bardotti, com músicas de Chico Buarque,
foi inspirado no Conto "Os músicos de Brêmen", dos Irmãos Grimm. Trata da reorganização das forças de trabalho: os explorados não se permitem mais explorar e passam a trabalhar para si, com funções claras para cada um, de forma que se sustentem com dignidade.
É a prática poética e em versão lúdica, de uma das máximas do comunismo:
a cada um conforme sua produção, e a cada um conforme sua necessidade.

Ouso acrescentar que o ideal mesmo, para nosso convívio social, seria: a cada um conforme sua felicidade, entendida como um consenso da boa vontade, do exercício da liberdade responsável, com respeito a felicidade alheia e desfrute da sua própria.

Eu vi no Teatro Ipanema, nesta montagem da Cia de Maria Lucia Priolli, todos os adultos da platéia em coro, a cantarem, a plenos pulmões, a canção do Gata, e da Galinha. Uma maneira linda de dizer que ainda temos, e teremos sempre, a vontade (e o objetivo) de uma sociedade mais justa, e mais alegre.

Meu caçula, Pedro, e a galinha, a Maravilhosa Telma Reis

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