quarta-feira, 9 de março de 2011

Tem Boi no Rio - é o Boitatá

Rio de Janeiro,
Praça XV
Cordão do Boitatá
Dia Dois do Melhor Carnaval do Mundo



São quatro dias de fantasia, o primeiro é do Bola Preta, e o segundo do Boitatá.

O coração ficou no Bola, e o corpo foi a farra do boi. Eu preciso defender meu boi, meu Boitatá.

Dou um Boi para ir e uma boiada para ficar - trata-se de um evento de respeito: o Cordão do Boitatá saiu pela primeira vez em 1997. São 14 anos de sucesso. Sua marca é o grupo musical, que lhe dá o nome. Oito músicos revezam-se em instrumentos e vocais, multiplicando a sonoridade do repertório tradicional. Levantam até os anestesiados.

Conforme avanço em direção a Praca XV, percebo o centro do Rio travestido em fantasia. No Boitatá a fantasia é tradição desde sua primeira apresentação. Tem que ir convicto na composição do visual. E eles vão, todos. Vestiram-se sem muita vergonha, sem muito critério. Esqueceram o desconforto do figurino do dia-a-dia, encarnam seus outros personagens. Libertaram-se em graça.

Você se fantasia, meu amor, e que coisa linda, é como quiser.

Dentro da grande comunidade carnavalesca do Boitatá - somos milhares - pendura-se uma melancia ou uma peruca colorida na cabeça, o que dá no mesmo. O cara que vai de baiana não se torna gay por isso. É só por um dia. Vai. Vai com tudo, vai de Moranguinho, que o povo gosta.

Vejam o barbudo de Moranguinho

Grupos combinados, casais fofos. Foliões sozinhos, um de cada vez, dando seu recado.
Você já viu fantasia de Facebook? Pois é, eu vi e me curtiram.

Crianças, famílias. Todo mundo fantasiado. Os homens barbados de fada, de Minie, de bailarina. Moças lindas de onça, de marinheira, de spice girls, de videntes, de joaninha, de vendedoras de beijo, de borboletas, de abelhas, de rainhas. Cisnes Negros, premiados e esvoaçantes. O visual diz tudo.

Também tem gente que se explica com crachás. Avisam quem são, quem gostariam de ser. Debocham da política, dos crimes recentes, da economia, do futebol, do amor, das traições. Adotam bordões - o grave ferido avisa que Veronica Costa vem aí. O casal gordinho anuncia em tabuleta que depois vai malhar. Um índio ostenta barriga de grávida e acusa meu amor de ter invadido sua oca. Entro na brincadeira, digo que pensão só depois do DNA. Produções caprichadas ou improvisadas, a comunicação funciona, estou na Praça Imperial da Alegria. Batizo-me de Wilma, escrevo no peito. Só meu bem sabe o porquê.

A vida fica leve aqui. Aquelas pessoas que passariam umas pelas outras na Rio Branco de cara fechada, olho no relógio, ordens no celular, jamais se falariam. Não temos tempo e nem fica bem. Veja só: estão aqui trocando piadas. Falam-se. E fica bem. Falei com eles, falaram comigo. Gracejos, provocações. Nenhuma briga. Nenhuma discussão. A vida e o Carnaval são melhores com bom humor.

É claro que me dirijo principalmente aos travestidos, tornamo-nos amigos, rimos, elogiam minha negra maluquice. Encanto-me com um par, elegante. Um deles usa uma echarpe belíssima. Apresenta-se como Giselle, e diz ao seu cavaleiro: "- Eu falei Eduardo, a echarpe era tudo!" O Eduardo é Dusek, astro, astro da nossa música, estamos no mesmo bloco! Rendo-me. Boto a mão no seu peito e peço que sempre cante para gente. Ganho de presente um sorrriso, lindo,e galanteios. Permite-me uma foto que ousadamente exponho aqui. Guardarei pare sempre o som de sua voz sem microfone falando diretamente para mim.

Honra - ladeada por Dusek e Giselle
Tenho a etiqueta por prova: o garoto do Facebook me curtiu


É um bloco iluminado. À luz do dia. Estamos fantasiados, mas vemos nossa cara, e é a cara do carioca - criativo, brincalhão, atrevido. Se está pendurado em contas a pagar ou fugindo da noiva, não importa. Se é carioca ou estrangeiro, ou paulista, ou mineiro, aqui somos todos do Rio. Que maravilha isso assim. Falar,ouvir, sorrir, retrucar. Admirar, brincar. Sorrir de novo.

É imperdível. Se não foi este ano, ano que vem, vá.

A gente se fala e se reconhece no Boitatá.


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